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Essaouira, cidade do Vento e do Gnawa

  • Foto do escritor: Alma Nómada
    Alma Nómada
  • 30 de out. de 2024
  • 4 min de leitura



Esta última viagem a Marrocos, em julho deste ano, tinha encerrada em si, duas missões… fazer sair da minha imaginação e trazer à realidade a Alma Nómada e conhecer Essaouira, a cidade costeira de que muitos me falavam, a cidade do Vento.

Essaouira é uma cidade costeira atlântica, situada a sudoeste de Marrocos que reúne em si três fatores extraordinariamente atrativos, uma medina história charmosa e encantadora, que é Património Mundial da Unesco, um clima ameno, que durante o mês de julho e depois de 10 dias em que a média diária eram 38 graus, os seus 25 graus foram um bálsamo, e uma atmosfera boémia, artística, envolvida pela música tradicional, o Gnawa.

Viajei desde Agafay pela N8, que desta vez e apesar da infraestrutura ser boa, levou-me a locais muito pobres. Comecei, nesta viagem, a perceber melhor o Marrocos profundo e as dificuldades diárias dos marroquinos, que Marraquexe, por força do seu turismo, tende a ocultar.

Alojei-me na Medina, num Riad encantador gerido por casal jovem que deixou a Europa, França, e apaixonados por Marrocos, investiram no turismo em Essaouira. Recebem-nos como se fosse a sua casa, que de facto é…aliás recebi a recomendação que não deveria trazer pessoas estranhas ao alojamento … o respeitinho é bonito!!! Respeitei…

A influência portuguesa é bem visível em Essaouira e faz parte da sua história. No início do sec.XVI os portugueses conquistaram e fortificaram a cidade e chamaram-na de Mogador. A sua localização estratégica com acesso ao Oceano Atlântico e à rota do Sahara, atraiu os portugueses que visavam controlar o comércio marítimo e expandir o império. A influência revela-se no urbanismo da medina, com muralhas fortificadas, tuneis escuros e húmidos, baluartes e torres da arquitetura militar portuguesa.

Aliás, em determinados momentos, em que regressava a casa, depois do jantar, percorrendo as vielas estreitas, em que já só circulavam os gatos, com o som do vento e a humidade característica das cidades junto ao Atlântico, senti-me em Portugal.

Mas na mistura de influências que Essaouira revela, a música é já, bem africana.

O Gnawa é uma tradição cultural e musical muito importante em Marrocos, com raízes espirituais profundas e influência africana. Trazida pelos escravos subsaarianos, do Mali, do Senegal e do Sudão foi se misturando com a cultura marroquina, criando o Gnawa, que combina elementos de música, dança e espiritualidade.

As letras são carregadas de temas espirituais, muitas vezes invocando ancestrais e espíritos protetores, e as performances são geralmente realizadas em lilas, cerimónias que duram a noite toda e têm uma forte componente de transe.

O Gnawa e o Vento dominam Essaouira, ouve-se em cada beco, em cada esquina, há artistas de rua que o tocam em muitos lugares… anima a cidade, é a Alma da Cidade, que lhe traz cor, alegria, gente de muitas influências musicais, do jazz, do reggae que se encontram anualmente no Grande Festival de Gnawa.

Adorei… adorei Essaouira, porque por um lado, fez-me lembrar Portugal e por outro, não podia ser mais diferente… uma cidade artística, musical, com mistério e envolvência muito particulares.

Essaouira é também praia e desportos náuticos… um areal vastíssimo de areia dourada e fina, onde os residentes e turistas usufruem da praia de modo diferente do que estamos habituados na Europa… as famílias reúnem-se debaixo do seu guarda-sol, fazem piqueniques, as crianças brincam, jogam à bola, entram no mar, jogam à bola, andam de camelo ou a cavalo, jogam à bola, comem uma espécie de Bolas de Berlim, mas sem o Berlim, e jogam à bola… já disse que jogam à bola? Os marroquinos adoram futebol…



Na caminhada de cerca de uma hora que fiz pelo areal descobri, no entanto, um lugar extraordinário, a Villa Beldi. Quase inacreditável, o espaço dos jardins, a piscina, o Negroni, a arquitetura do Hotel. Fica a dica caso visitem Essaouira.



Outras dicas de espaços a visitar, seja para beber um cocktail ou jantar, seja para beber um café, são o Salut Maroc, junto à muralha com especialidades de peixes e uma verdadeira varanda para o pôr-do-sol, é mesmo um local incontornável, mas também o Le Palazzo, que fica mais próximo do Porto de Essaouira , e do Skala du Port, local que serviu de set a várias filmagens da famosa série “Game of Thrones, mas também um pequeno estabelecimento escondido numa ruela, onde comi uma fabulosa tagine de almôndegas de sardinha, feita no momento, que me deliciou que se chama La Casa. Finalmente, o famoso Mandala Society, com magníficos brunchs e café,  embora mais ocidentalizado.

Para passar a noite deixo-vos a referência a mais dois locais fantásticos, que para além da Villa Beldi, podem servir de “lar” ou refúgio na vossa estadia… o Riad Lyon - Mogador, bem no centro da Medina e o Les Jardins de Villa Maroc, nos arredores de Essaouira… espreitem, não se vão arrepender.



Fechem os olhos… imaginem uma cidade fortificada, no séc. XVI, o som do vento, o som do mar, a humidade constante das cidades do atlântico… e de repente, irrompe o som do Gnawa, o transe… foi uma experiência, inesquecível.

 
 
 

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