Amazigh e o sonho da liberdade
- Alma Nómada
- 9 de set. de 2024
- 2 min de leitura

Era um facto que desconhecia que em Marrocos existem árabes e bérberes. São diferentes historicamente, culturalmente e geneticamente. É diferente o ADN...
Os amazigh são um dos grupos étnicos mais antigos e fascinantes do Norte de África onde habitam há mais de 4000 anos. São o povo originário da região muito anterior à chegada dos árabes e apesar das inúmeras invasões, a sua língua e cultura não desapareceram e o tamazight continua a ser falado nos dias de hoje.
Foi reconhecido como idioma oficial em 2011, juntamente com o árabe, reforçando o valor cultural e histórico do idioma. Aliás, quem já atravessou terras do reino, não pode deixar de ficar surpreendida com a capacidade linguística dos marroquinos... todos falam árabe, darija que é a adaptação nacional do árabe e tamazight. Depois muitos falam francês, por força da colonização... e outros tantos acumulam o inglês e o espanhol, por força da emigração e do turismo. Nunca senti por isso dificuldade em ser compreendida... aliás, batatas fritas, cristiano ronaldo e bacalao são as palavras que dizem perfeitamente em português.
Mas o que significa "amazigh"? Significa homem livre, nobre... e isto reflete o forte espírito de independência e resiliência que caracteriza este povo. Desde sempre praticantes da transumância, ainda hoje, é uma realidade e continuamos a ter em Marrocos, famílias nómadas que se dedicam ao pastoreio e que vão mudando de região em região para procurar as melhores condições para os rebanhos.
Durante décadas foram sujeitos a diversas invasões como os romanos, os árabes e os franceses, mas mantiveram a sua identidade cultural, baseada numa sociedade matriarcal onde a mulher, a mãe é o centro da sociedade familiar. Curioso não? tão contrário ao que sempre nos foi veículado.
A este propósito surge a Lenda de Kahina, a rainha guerreira e uma das figuras mais icónicas da história bérbere. Viveu no século VII e liderou uma revolta contra a invasão árabe. É lembrada como símbolo de resistência e bravura entre o seu povo, pois retardou a expansão do Islão durante vários anos, protegendo o seu território.
Impressões... do meu contacto com o povo bérbere considero-os simples, de sorriso fácial, de alegria vibrante que se percebe nas roupas coloridas, nos lenços de franjas vermelhas ou amarelas, amarrados à cabeça com um nó cimeiro, como as mulheres do Minho, nos imensos adornos femininos em prata e com muitos detalhes, nas músicas e danças enérgicas, como o chaabi.
Mas a liberdade tem sempre um preço não é? E por aquilo que percebi, os amazigh pagam caro essa liberdade...
A mim fascinaram-me pela simplicidade, e por não abdicarem nunca dessa ben(dita) liberdade.
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