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A simplicidade que alimenta a alma

  • Foto do escritor: Alma Nómada
    Alma Nómada
  • 20 de ago. de 2024
  • 2 min de leitura



Capítulo dois: Depois de um dia pelas ruas intensas e cheias de gente da medina de Marraquexe, sigo viagem pelas estradas do sul de Marrocos e pelas paisagens áridas, de tons amarelos, laranjas e ocres, pontuados aqui e ali por tonalidades verdes dos oásis. Calor intenso, embora o grupo que se dispunha a conquistar o deserto, seguia animado, numa mescla de idiomas de vários lugares do Mundo. Mas sobre este pequeno grupo de 13 pessoas, sim 13 pessoas, falarei num outro dia...




Parámos num oásis... Tinghir, onde avistávamos campos de hortelã-menta e tamareiras. Esperava por nós um guia, que nos acompanharia na visita ao kasbah e mais tarde à garganta do Toudgha. Conversámos um pouco... o nosso guia era bérbere nascido em Imilchil, uns bons quilómetros de distância de onde nos encontrávamos, mas que fazendo jus ao seu ADN nómada tinha viajado por muitos países. Tinha vivido 5 anos no Japão. No Japão!! Conseguem imaginar? A mim surpreendeu-me muito...

Mas esta pequena introdução serve para ilustrar aquilo que, de facto, me marcou nesta pequena pausa a caminho do Sahara. Num determinado momento, perguntei-lhe como era voltar a Marrocos depois de ter vivido 5 anos num país de milhões... e a resposta foi reveladora do espírito e modo de ser e sentir do povo bérbere..." Vivemos de um modo simples, e aquilo que não temos, não nos faz falta".

Estas palavras ressoaram em mim com uma força, com tamanha intensidade que naquele momento quase chorei. Vivemos numa sociedade em que o dia-a-dia é pautado pelo verbo "ter", ter mais coisas, ter mais dinheiro, ter mais poder ... e ali, naquele canto do mundo, onde as casas são feitas de terra e paus, onde os caminhos não são de betão, onde o dinheiro ganho naquele dia serve para a alimentação do dia seguinte, alguém me diz que o que não tem não lhe faz falta. Vida simples...

Mas a lição não ficou por aqui...e um pouco mais adiante parámos no meio de um beco, atrás de um portão enferrujado, porque se preparava uma fornada de pão quente. Uma mulher, aninhada no chão, em frente a um pequeno forno a lenha, cozia 3 pães.

Não sei exatamente para que se destinavam, se seriam para vender, se seriam para alimentar as três crianças de tenra idade que corriam e brincavam junto do nosso grupo, mas a realidade é que um deles foi repartido pelos viajantes que seguiam rumo ao deserto.

Não sei se pelo simbolismo daquele momento, se pelas circunstâncias, se pelo envolvimento daquela tarde quente,se pela simplicidade daquele lugar, guardo na memória, como sendo o melhor pão que comi na vida.




Alimentou-me a ALMA.

 

 

 
 
 

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